Violência narco e militar no Equador limita o futuro dos jovens ao crime ou à morte
Assassinato de quatro jovens em Guayaquil expõe a brutalidade e o racismo dentro da escalada da violência no Equador. Família clama por justiça enquanto o governo militariza a segurança em meio ao caos do narcotráfico.
Ismael, 15 anos, e Josué, 14, sonhavam em se tornar jogadores de futebol em Brasil e França, respectivamente. Mas os sonhos dos irmãos Arroyo foram brutalmente interrompidos após serem assassinados junto com Nehemías Saul, 14, e Stevan Medina, 11, em Guayaquil.
Os meninos foram levados por militares em Las Malvinas, um bairro marcado pela violência e pela presença da facção criminosa Los Carniceros. Desapareceram por quase três semanas antes de seus corpos serem encontrados queimados, com sinais de tortura e tiros nas costas.
Após a prisão de dezesseis militares, uma investigação foi iniciada. O pai, Luis Arroyo, lamenta que seus filhos se tornaram vítimas da desigualdade social e da brutalidade militar.
O presidente Daniel Noboa, em campanha para reeleição, militarizou a segurança pública em um país em crise com o narcotráfico. Em um ano, 33 casos de desaparecimento forçado envolvendo militares foram registrados.
Enquanto os homicídios caíram 16%, os números voltaram a subir em 2023, com 1.300 assassinatos nos primeiros 50 dias do ano. Noboa busca parcerias com a Blackwater, empresa controversa de mercenários.
Após a repercussão do caso, Noboa sugeriu que os meninos fossem considerados heróis nacionais, algo que a família refutou. Eles se sentem abandonados pelo Estado, sem nenhum apoio.
O clima de violência é palpável, especialmente entre os jovens, que enfrentam o recrutamento pelas máfias do narcotráfico e a evasão escolar crescente. Dados apontam que 119 mil crianças abandonaram a escola em 2023.
A crise social transforma jovens em sicários e vitimiza aqueles que buscam um futuro melhor. A renda média é de apenas US$ 189 por mês, com um desemprego de 80% entre jovens de 15 a 29 anos.