Reconhecimento francês da Palestina já produz efeitos e expõe impasses diplomáticos
Especialistas apontam que o reconhecimento da Palestina pela França pode influenciar outros países a seguir o mesmo caminho. A decisão de Macron é vista como um retorno à tradição diplomática francesa e uma resposta ao crescimento da hostilidade à paz no Oriente Médio.
Reconhecimento da Palestina pela França
Três especialistas franceses do Oriente Médio analisam o impacto do reconhecimento do Estado palestino por Emmanuel Macron, anunciado para setembro na Assembleia-Geral da ONU.
Os especialistas são:
- Hubert Védrine, ex-chanceler;
- Henry Laurens, professor do Collège de France;
- Justin Vaïsse, diretor do Fórum de Paris sobre a Paz.
Macron evidencia a solução de dois Estados como inevitável, mas distante. O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, também sinalizou um reconhecimento, dependendo da situação na guerra Israel-Hamas.
Críticas surgiram da parte de Binyamin Netanyahu, que considera o movimento uma "ajuda ao Hamas", opinião contestada pelos especialistas. Védrine ressalta que o Hamas ameaça a Autoridade Palestina, que, segundo Vaïsse, é quem realmente se beneficia da decisão.
Macron defende um cessar-fogo em Gaza e a consolidação da Autoridade Palestina em sua carta a Mahmoud Abbas.
Laurens destaca que essa decisão restabelece uma tradição da diplomacia francesa, iniciada por Charles de Gaulle em 1967, e que foi quase esquecida na última década devido ao temor de associações com antissemitismo.
O Fórum de Paris sobre a Paz já organizou um apelo pela solução de dois Estados com 300 representantes palestinos e franceses.
Embora Vaïsse veja uma maioria silenciosa pela paz, Laurens expressa preocupação com a radicalização da opinião pública israelense. Os especialistas acreditam que a Arábia Saudita pode desempenhar um papel significativo na resolução do conflito.
Védrine sugere uma fusão entre a abordagem de Macron e os Acordos de Abraão, enquanto Laurens compara a situação a processos históricos que levaram décadas para serem resolvidos.
O Brasil também é mencionado como um potencial jogador simbólico, apoiando as discussões no Conselho de Segurança da ONU e a ação contra Israel na Corte Internacional de Justiça.
Os especialistas enfatizam que, apesar das dificuldades, a busca pela paz e justiça na região continua a ser uma prioridade global.