Por que o Brasil tem fome se é um grande produtor de alimentos?
Apesar de ser um dos maiores produtores de alimentos do mundo, Brasil registra altos índices de fome. Especialistas apontam que a falta de renda e a má distribuição dos recursos são fatores fundamentais para a insegurança alimentar no país.
Brasil é um grande produtor de alimentos e líder na exportação de produtos como soja e carne. Entretanto, enfrenta a insegurança alimentar, com 8,4 milhões de brasileiros passando fome entre 2021 e 2023, representando 3,9% da população.
Esse cenário mantém o Brasil no Mapa da Fome da ONU, após ter saído em 2014. Apesar de uma leve melhora em relação ao triênio 2020-2022, especialistas apontam que não há falta de alimentos, mas sim falta de dinheiro para comprá-los.
Os principais fatores da fome incluem:
- Desemprego em queda, mas preços dos alimentos altos;
- Produção agrícola focada na exportação;
- Desertos alimentares em algumas regiões.
Graziano, ex-diretor da FAO, afirma que políticas eficazes são fundamentais para erradicar a fome. Ele ressalta que as condições sociais pioraram após a crise de 2014/2016, contribuindo para a insegurança alimentar crescente.
Em 2022, 33 milhões de brasileiros estavam em insegurança alimentar grave. A falta de acompanhamento salarial em relação à inflação foi um dos principais fatores, com os salários crescendo apenas 5%, enquanto a inflação para a baixa renda aumentou 85,8%.
Elisabetta Recine, do Consea, destaca a necessidade de reequilibrar a produção agrícola, focando na produção de alimentos básicos para o mercado interno, como arroz e feijão. Atualmente, 88% da produção é voltada para soja e milho, commodities exportadas.
Lucchi, da CNA, afirma que a insegurança alimentar não é um problema de abastecimento, e sim de renda. Apesar do aumento da oferta de alimentos não resolver a fome, mudanças climáticas e políticas inadequadas aumentam os riscos de desabastecimento.
Recine denuncia os “desertos alimentares”, onde 25 milhões de brasileiros não têm acesso a alimentos frescos. Para combatê-los, sugere investimento na agricultura familiar, especialmente na produção de frutas e hortaliças.
O governo pretende sair do Mapa da Fome até 2026, com políticas como o Bolsa Família, que atualmente beneficia 55 milhões de pessoas. O desafio continua sendo incluir os mais vulneráveis nas políticas públicas, com a meta de alcançar 80% dos habitantes em risco até 2027.