Papa usou diplomacia e viagens para atuar fora do eixo europeu
Jorge Bergoglio deixa um legado de diplomacia inovadora e um chamado à unidade em tempos de polarização. Seu pontificado foi marcado por uma visão global que priorizou as periferias e buscou reduzir as desigualdades antes de sua morte aos 88 anos.
Jorge Bergoglio, o papa Francisco, morreu nesta segunda-feira (21), aos 88 anos.
Ele foi o primeiro papa jesuíta, o primeiro a adotar o nome de Francisco, e o primeiro em 1.200 anos a nascer fora da Europa, sendo também o primeiro da América do Sul.
Seu pontificado, de quase 12 anos, foi marcado por uma visão diplomática voltada para as periferias do mundo, sem necessariamente se alinhar a Washington, o que o diferenciou de seus antecessores.
A especialista Anna Carletti destaca que Francisco não herdou a dívida moral dos papas europeus após as guerras mundiais. Ele enfrentou a ditadura argentina, que criou sua visão por um mundo multipolar e menos desigual.
Suas nomeações incluem 110 cardeais de 79 países diferentes, sendo 26 deles sem representação anterior.
Francisco também realizou viagens a 67 países, incluindo sete que nunca foram visitados por um papa, como Mianmar e Iraque. A maioria das nações que visitou está na periferia da Europa ou no Sul Global.
O papa se destacou por sua abertura ao diálogo interreligioso, encontrando-se com líderes religiosos importantes, como o da Igreja Ortodoxa Russa pela primeira vez em 965 anos.
No entanto, essa busca por alargar as fronteiras do catolicismo teve seus desafios, como evidenciado pela relação com a China, onde um acordo para a nomeação de bispos enfrenta dificuldades.
Apesar de firmar um tratado em 2018, pelo qual buscou reconhecimento de seu líder, Francisco viu paralisarem as nomeações de bispos sem seu aval.
Francisco também tentou estabelecer relações com a Rússia, especialmente em tempos de conflito na Ucrânia. No entanto, sua comunicação com o patriarca Cirilo contratou forças, visto que a Igreja Ortodoxa apoiou a invasão russa, aumentando tensões entre os dois líderes.
O papa fez tentativas de debater sobre isso, mas suas tentativas de reconciliação com Cirilo falharam, gerando um cenário complexo entre a diplomacia vaticana e as realidades regionais.