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Os 'microtrabalhos' exaustivos na internet que atraem mulheres com promessa de renda sem sair de casa: 'Se não bato meta, espero o dia virar e recomeço'

Microtrabalhadoras enfrentam longas jornadas e precariedade em busca de renda durante a crise. Estudo revela que 63% dos microtrabalhadores no Brasil são mulheres, muitas vezes responsáveis por cuidar de suas famílias enquanto tentam conciliar trabalho e atividades domésticas.

Flávia, 32 anos, mãe solo de três filhos, trabalha como camelô desde os 20, sem experiência em empregos formais. A crise gerada pela pandemia intensificou suas dificuldades financeiras, levando-a ao microtrabalho online para ajudar nas despesas.

Ela dedica cerca de 14 horas diárias a plataformas digitais, como PiniOn e Kwai, ganhando em média R$ 700 mensais. As atividades incluem avaliações de serviços e visualizações de vídeos. Além disso, ela realiza tarefas domésticas e gerencia seus horários de trabalho de forma flexível.

A saúde de Flávia é afetada pelo trabalho exaustivo, manifestando-se em desconfortos físicos. As plataformas justificam suas práticas, afirmando que os usuários participam voluntariamente e sem jornadas excessivas.

No Brasil, as mulheres representam aproximadamente 63% dos microtrabalhadores. A informalidade e o desemprego tornam o microtrabalho uma alternativa para muitas, mas os especialistas alertam sobre a precariedade e falta de reconhecimento no setor.

Juliana, outra microtrabalhadora, teve que utilizar o celular para curtir postagens em troca de dinheiro, buscando aliviar as contas da casa em um cenário de desemprego. Contudo, o Magazine Luiza desmentiu qualquer link com a proposta da Juliana, alertando para ações fraudulentas.

Estudos revelam que o microtrabalho não proporciona aprendizado ou habilidades valiosas e que a situação das mulheres nesse campo é ainda mais desafiante, com desigualdade de oportunidades nas empresas de tecnologia.

Legislações trabalhistas ainda não cobrem o microtrabalho no Brasil. A invisibilidade desses trabalhadores aumenta a vulnerabilidade, gerando desafios para condições de trabalho justas. Um caso de ação civil pública é um exemplo recente de busca por reconhecimento no setor.

A pesquisadora Luiza Corrêa de Magalhães Dutra destaca que, por trás da tecnologia, permanecem abusos e desigualdades, reafirmando que a revolução digital também perpetua hierarquias tradicionais.

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