O rapto de crianças indígenas por cientistas alemães em expedição pelo Brasil no século 19
Exposição em Munique revisita a expedição de Spix e Martius, destacando o lado sombrio do rapto de crianças indígenas. A curadoria de Sabrina Moura busca trazer à luz as ausências e controvérsias em torno da prática científica do século 19.
Cientistas alemães Johann Baptist von Spix e Carl Friedrich Philipp von Martius realizaram uma expedição ao Brasil entre 1817 e 1820, levando para a Europa milhares de plantas e animais.
Entre os itens, estavam duas crianças indígenas — Juri e Miranha. Apesar de pertencerem a etnias inimigas e não falarem a mesma língua, ficaram juntas na Alemanha. Ambos morreram entre 14 anos, após adoecerem pouco tempo depois de chegarem.
A história do rapto das crianças começou a receber atenção recentemente, com a exposição Travelling Back, curada por Sabrina Moura e apresentada em Munique, que explorou criticamente a expedição.
O livro O Som do Rugido da Onça (2021), de Micheliny Verunschk, também trouxe à tona essa história, narrando-a pela perspectiva de Miranha.
A conferência na exposição revelou reações conflituosas sobre o episódio. Comentários tentaram justificar o rapto por razões científicas, mas a curadora Moura destacou a necessidade de discutir os aspectos sombrios da ciência.
As crianças foram registradas de maneira minimizada na história, enquanto Spix e Martius receberam honrarias pela expedição, que catalogou mais de 22 mil espécies e resultou no livro Reise in Brasilien.
A placa mortuária das crianças, encomendanda pela rainha Carolina da Baviera, foi também exposta, destacando suas memórias. Obras de vários artistas contemporâneos reinterpretaram esses eventos, como a colagem digital de Gê Viana.
Embora a ciência celebrada tenha seu valor, muitos especialistas clamam pela reavaliação crítica desses episódios coloniais e suas consequências até hoje.