Negociação com Trump envolverá ‘um Judiciário não tão independente como no Brasil’, diz especialista
Fernanda Burle, especialista em relações comerciais, analisa os impactos da investigação do USTR sobre o Brasil e propõe uma estratégia de retaliação nas áreas de patentes. Ela destaca a importância do lobby americano e sugere que o Brasil adote medidas mais assertivas para resistir à pressão dos EUA.
A advogada pernambucana Fernanda Burle teve uma experiência significativa em lobby em Washington, onde dirigiu a divisão internacional do Conselho de Negócios Brasil e Estados Unidos. Ela lidou diretamente com o Representante Comercial dos EUA (USTR), que iniciou uma investigação sobre práticas comerciais do Brasil a mando do presidente Donald Trump.
O USTR faz parte da Câmara de Comércio dos Estados Unidos, a maior entidade de lobby do mundo, abrangendo cerca de 3 mil entidades. Esse conselho promove o livre comércio entre os dois países e ajuda na atração de investimentos.
Segundo Fernanda, a estratégia de Trump visa exercer pressão sobre o Brasil, e não necessariamente justificar novas tarifas. Ela defende uma resposta mais firme do Brasil, incluindo ameaças de retaliação na área de patentes, que podem assustar os americanos.
A advogada menciona que o USTR possui um poder significativo, sendo comparável a um ministério que atua de forma autônoma. Além disso, Trump está utilizando estratégias de seu primeiro mandato para implantar tarifas, e a experiência passada mostra que as investigações são mais longas que as negociações comerciais.
Fernanda também analisa que a investigação pode ser uma maneira de assustar o Brasil e favorecer negociações, ao invés de uma aplicação imediata de tarifas. Ela afirma que a pressão do USTR é constante e monitora questões relacionadas ao Brasil, mesmo que muitas delas já estejam resolvidas.
A advogada questiona a lógica das queixas atuais dos EUA e sugere que o lobby das empresas americanas compradoras de insumos brasileiros seria uma abordagem mais eficaz para pressionar o governo dos EUA. Além disso, ações de retaliação no campo da propriedade intelectual poderiam ter um grande impacto, especialmente em setores como tecnologia e farmacêutica.
Tudo isso destaca a necessidade de uma estratégia de lobby mais robusta por parte do Brasil e de suas empresas para lidar com as ações do governo Trump, evitando excessos de diplomacia que possam deixá-los vulneráveis.