Naturalizado brasileiro, opositor de Erdogan: quem é empresário turco preso pela PF em São Paulo
Empresário turco naturalizado brasileiro é alvo de extradição solicitada pela Turquia devido a acusações de terrorismo. Defesa alega perseguição política e busca revogação da prisão no Supremo Tribunal Federal.
Polícia Federal prendeu, nesta quarta-feira (30/04), o empresário turco naturalizado brasileiro Mustafa Goktepe, 47 anos, em São Paulo.
A prisão resulta de um processo de extradição solicitado pelo governo da Turquia, que será analisado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), sob relatoria do ministro Flávio Dino. A prisão temporária foi autorizada enquanto o caso é avaliado.
Goktepe vive no Brasil há duas décadas, é casado com uma brasileira e pai de duas filhas, de 8 e 13 anos. Naturalizado em 2012, é proprietário de restaurantes e coordenador de escolas em São Paulo.
Ele é acusado pelo Ministério Público da Turquia de terrorismo por integrar o movimento Hizmet, considerado terrorista após a tentativa de golpe em 2016. Goktepe também é investigado por uso do aplicativo ByLock e movimentações financeiras suspeitas.
Sua defesa classifica as acusações como perseguição ideológica, alegando que ele defende a democracia e a tolerância religiosa. O advogado Beto Vasconcelos afirma que Goktepe não cometeu ilícitos e que a extradição é juridicamente impossível.
A Turquia garantiu que Goktepe terá ampla defesa e não será processado por atos anteriores à extradição, conforme artigo 96 da Lei de Migração.
Por outro lado, a defesa contesta a alegação de que não há comprovação formal da nacionalidade brasileira de Goktepe. Lideranças religiosas e ex-altas autoridades expressaram apoio ao empresário.
A Confederação Israelita do Brasil (Conib) manifestou "indignação e surpresa" e destacou o trabalho de Goktepe em promoção do diálogo cultural.
O ex-ministro da Defesa José Carlos Dias alertou que a extradição ofenderia princípios do Estado Democrático de Direito.
Este é o terceiro pedido de extradição feito pela Turquia contra membros do Hizmet no Brasil. Os dois pedidos anteriores, para empresários Ali Sipahi e Yakup Sagar, foram negados pelo STF.
O nome de Goktepe voltou a ser mencionado em janeiro de 2023 na lista de procurados por terrorismo da Turquia. O caso está sob análise do ministro Flávio Dino e deve ser avaliado nos próximos meses.
A reportagem tentou contato com a Embaixada da Turquia no Brasil, mas não obteve resposta.