Não dá para chamar esse Banco Central de brando, diz diretor do Goldman Sachs
Alberto Ramos, do Goldman Sachs, sugere alta moderada da Selic em junho, mas defende cautela para permitir cortes futuros. Ele critica a atuação do governo, que não alivia a pressão inflacionária e dificultam as ações do Banco Central.
Alberto Ramos, diretor de pesquisa macroeconômica do Goldman Sachs, sugere uma alta de 0,25 ponto percentual na Selic durante a próxima reunião do Copom em junho, elevando a taxa para 15% ao ano.
Ramos propõe uma abordagem conservadora no curto prazo para possibilitar futuras reduções na Selic. Ele indica que o Banco Central (BC) parece ter encerrado o ciclo de altas. Em entrevista, afirmou que o BC não pode ser considerado dovish (brando), citando aumentos recentes na taxa.
Segundo Ramos, o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não está contribuindo para aliviar a pressão fiscal sobre a economia. Para ele, a comunicação do Copom gerou confusão, tentando parecer tanto dovish quanto hawkish ao mesmo tempo.
A avaliação é de que o Copom precisará de uma “ginástica comunicacional” para justificar a paralisação dos juros, dado que a inflação permanece fora da meta. Ramos refere que não haveria grandes diferenças em manter a Selic em 14,75% ou elevá-la para 15%.
Ele alerta que a inflação é um problema sério e sugere que o governo deveria apoiar um trabalho eficaz do BC no controle da inflação, essencial para promover a saúde econômica.
Para Ramos, a expectativa do mercado é de que o ciclo de alta da Selic termine em 15%, e o BC deve se alinhar a essa projeção, mesmo que dados futuros possam alterar a circunstância.
Sobre as estratégias do BC, ele sugere que o órgão deve considerar o cenário atual e, caso haja sinais de apreciação da moeda ou queda nos preços de commodities, poderia parar de aumentar a taxa.
Por fim, Ramos enfatiza a importância de coordenar efetivamente as expectativas monetárias e fiscais para garantir a consistência na política do BC, que enfrenta desafios devido à frágil situação fiscal.
RAIO-X | ALBERTO RAMOS
Nascido em Portugal, diretor de pesquisa macroeconômica para a América Latina do Goldman Sachs desde 2003. Anteriormente, atuou como economista sênior do FMI. Possui PhD em economia pela Universidade de Chicago.