Moradores de vila feita para nazistas tentam lembrar e esquecer passado sombrio
Moradores de um bairro histórico em Berlim se unem para protestar contra a ascensão da extrema direita, refletindo sobre o legado nazista do local. A ação busca reafirmar valores democráticos em um contexto de crescente intolerância na Alemanha.
Em janeiro, Susanne Bücker, médica em Berlim, expressou preocupação com a ascensão da extrema direita na Alemanha, especialmente com o apoio de Elon Musk ao partido AfD, que utiliza slogans nazistas. Ela enviou uma carta aos vizinhos, convocando um protesto em memória do 80º aniversário da libertação de Auschwitz.
Cerca de 40 vizinhos se uniram, acendendo velas e exibindo cartazes pró-democracia nas janelas de suas casas em Waldsiedlung Krumme Lanke, um bairro com um passado sombrio.
O bairro foi originalmente construído como uma "comunidade de elite" para a SS nazista, abrigando seus membros e suas famílias durante a Segunda Guerra Mundial. Esse legado histórico gera uma luta interna entre os residentes em relação ao passado.
Matthias Donath, historiador da arquitetura nazista, destacou a "banalidade do mal" ao conectar o bairro com Auschwitz, onde alguns ex-residentes estiveram envolvidos em crimes de guerra.
A repressão e o esquecimento do passado foram comuns entre os residentes, com muitos ignorando a história do lugar até que vizinhos a revelassem. Susanne Güthler, professora que se mudou para a vila em 2000, expressou a necessidade de enfrentar o silêncio do passado.
No pós-guerra, as casas foram cedidas a vítimas da perseguição nazista, mas a relação entre nazistas e vítimas não foi questionada por muitos anos. Gisela Michaelis, residente desde 1945, lembrou-se de uma infância feliz, enquanto Michael Joachim trouxe à tona histórias sombrias da história.
Na década de 1980, a pesquisa sobre o condomínio começou a emergir, e muitos residentes não tinham consciência de sua história inicial. A historiadora Karin Grimme encontrou resistência em questionar o passado, o que permaneceu uma tendência. Em 1992, a vila foi reconhecida como um local historicamente protegido.
Atualmente, Elmar Bassen e Caroline Frey, que adquiriram uma casa no condomínio em 2011, descobriram suas conexões com o médico nazista Joachim Mrugowsky. Após reflexão, decidiram estabelecer suas vidas ali, enfatizando a necessidade de lembrar a história para evitar repetições.
O casal se juntou à resistência contra a AfD e decorou suas janelas com cartazes, reafirmando seu compromisso com a memória e a democracia.