Mercado vê ação da Moody’s como ‘correção de rota’ com situação fiscal frágil no Brasil
Agência Moody's altera perspectiva do Brasil de positiva para estável, refletindo uma postura mais realista em relação ao cenário fiscal do país. Especialistas avaliam a mudança como um reconhecimento de erro quanto ao otimismo anterior sobre a situação econômica brasileira.
Moody's altera perspectiva do Brasil de positiva para estável, movido por uma correção de rota em relação ao rating 'Ba1'. No ano passado, a mudança de nota foi criticada por ocorrer em um momento de fragilidade fiscal.
A decisão atual é vista como ajuste a um potencial otimismo excessivo anterior. Brasil segue a um degrau do grau de investimento na Moody's, mas a perspectiva estável diminui chances de elevação a curto prazo.
Agências como S&P Global e Fitch mantêm rating 'BB', indicando que a nota da Moody's ainda é mais favorável. Carlos Kawall da Oriz Partners considera que a Moody's reconheceu um erro ao alterar a perspectiva, e que, neste momento, seria mais adequado um viés negativo.
Marcelo Fonseca, economista-chefe da Reag Investimentos, também considera a elevação da nota em outubro “incompreensível” diante da deterioração fiscal. O impacto das mudanças de rating nos ativos financeiros foi discreto.
Em abril, a Moody's já havia sinalizado preocupações sobre custos de empréstimos e necessidade de medidas fiscais adicionais. Fernando Haddad, ministro da Fazenda, defendeu a política fiscal na reunião com a agência, mas a Moody's reiterou que reformas estruturais são necessárias.
Estas reformas incluem redução de vinculações de receita e desvinculação de benefícios sociais do salário mínimo, demandando um consenso mais amplo envolvendo governo, Congresso e sociedade.
A mudança de perspectiva é vista como correção de um otimismo anterior, com a avaliação de que não há uma trajetória fiscal credível para estabilizar a dívida no futuro. Kawall aponta que o espaço fiscal tende a ser utilizado para fins eleitorais, mantendo pressão sobre os juros.
No geral, apesar de um cenário externo mais favorável, não há fundamentos domésticos que justifiquem uma melhora na nota do Brasil.