Guerra cognitiva: as mentes das pessoas podem ser novo alvo dos conflitos?
A manipulação psicológica se torna uma nova arma nos conflitos, desafiando leis tradicionais de guerra. Especialistas alertam para a necessidade de atualizar regulamentos e reconhecer os danos causados por operações cognitivas.
Uma nova cepa mortal de gripe surge, causando pânico na população. Autoridades minimizam a situação, enquanto especialistas contraditórios nas redes sociais debatem sua gravidade.
Hospitais estão lotados de pacientes com sintomas semelhantes aos da gripe, dificultando o atendimento a outros, resultando em mortes. Investigações revelam que um adversário estrangeiro plantou desinformações, incluindo uma suposta alta taxa de mortalidade, sem que isso seja considerado um ato de guerra.
Esse fenômeno é um exemplo de wars cognitivas, manipulando percepções para destruir a realidade do adversário sem combate físico. O conceito de “controle reflexivo”, desenvolvido pela Rússia, é a essência dessa estratégia.
Narrativas enganosas sobre historicamente reivindicações de terras e a corrupção do Ocidente caracterizam a guerra cognitiva. Essa técnica busca modificar atitudes e comportamentos, criando uma nova arena de combate mental.
A revolução digital facilita campanhas de desinformação, utilizando microssegmentação e inteligência artificial para moldar opiniões. As consequências físicas dessa guerra estão se intensificando, como visto no conflito da Ucrânia e nas narrativas sobre surtos de doenças.
Durante a pandemia de covid-19, informações falsas causaram mortes e impactaram atitudes em relação às medidas sanitárias. Agentes estatais diversificaram suas táticas em plataformas digitais, colaborando para moldar a visão pública.
Enquanto técnicas como neurotecnologia evoluem, podem ser usadas para manipulação, colocando em risco a separação entre informações e o corpo humano.
Lacunas legais persistem nas leis de guerra contemporâneas, não reconhecendo a manipulação psicológica como uma arma. Agentes estatais podem causar danos sem estabelecer um estado de guerra formal.
Para uma proteção eficaz contra a guerra cognitiva, é necessário redefinir ameaças no contexto atual e reconhecer os danos psicológicos como ferimentos reais.
Regulamentações devem ser atualizadas, integrando direitos humanos e liberdades fundamentais para salvaguardar civis desses novos ataques. É essencial que o arcabouço jurídico responda a essas novas formas de conflito, visando promover resiliência e proteção nas gerações futuras.
David Gisselsson Nord e Alberto Rinaldi são pesquisadores associados à Universidade de Lund.