Governo enfrenta dilema entre endurecer contra aço chinês ou desagradar setores da indústria
Governo se reunirá com siderúrgicas para discutir a renovação de cotas e tarifas após aumento nas importações de aço, gerando insatisfação no setor. A expectativa é que medidas mais rigorosas contra o aço chinês possam ser propostas, mas há resistência entre consumidores e importadores.
Governo brasileiro adotou um regime de cotas e tarifas em 2024 para o setor siderúrgico, que vence em 31 de maio. A medida visa enfrentar o aumento das importações de aço, iniciado em 2023, mas não atendeu totalmente as demandas das siderúrgicas, gerando insatisfação entre consumidores e importadores.
O Comitê Executivo de Gestão (Gecex) se reunirá em 27 de março com representantes do setor, como o Instituto Aço Brasil. A pauta inclui 14 produtos específicos conforme a Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM).
A Abitam pede cotas para três produtos, enquanto o Sicetel solicita medidas para seis. Desde 1º de junho de 2024, as importações que superam a cota definida (média de 2020-2022 + 30%) estão sujeitas a uma sobretaxa de 25%.
O aço chinês é considerado o maior vilão no mercado brasileiro, levando siderúrgicas a exigir ações governamentais para conter a "invasão" de produtos asiáticos. Apesar das solicitações, siderúrgicas não comentaram publicamente, aguardando resultados da reunião.
Há incertezas sobre a imposição de medidas mais severas contra a China, que é o principal parceiro comercial do Brasil. A entrada de aço estrangeiro aumentou 27,5% de janeiro a abril, com a China respondendo por 76% das importações em um mês recente.
Atualmente, há cerca de 1 milhão de toneladas de aço aguardando desembarque no Brasil. Isso levanta receios de possíveis novas sobretaxas ou de medidas antidumping.
Grandes consumidores como os setores automotivo e construção civil argumentam que medidas mais rígidas piorariam a competitividade da indústria local e aumentariam custos. A imposição de altas alíquotas pode também restringir a importação de produtos especiais, como aços revestidos e ligas de alta resistência, indispensáveis para diversas aplicações.
As siderúrgicas chinesas, em sua maioria estatais, operam com preços abaixo de custo, em contraste com as necessidades do mercado brasileiro. Em 2022, a China exportou 114 milhões de toneladas, apresentando um cenário distinto ao do Brasil.