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Executivos bem remunerados, mesmo sem performance

Transparência nas remunerações executivas no Brasil continua sendo um desafio, contribuindo para práticas desalinhadas entre gestores e investidores. A falta de responsabilidade e supervisão efetiva ameaça a longevidade das empresas, mesmo em um cenário de novas regulamentações.

Mercado Brasileiro e o Caso Americanas: Uma lição sobre o perigo dos incentivos desalinhados e práticas de remuneração equivocadas.

A desconexão entre o valor gerado e a remuneração do management prevalece, exacerbada pela falta de transparência nas informações.

Investidores observam que empresas testam limites com propostas audaciosas de remuneração, muitas vezes sem a devida crítica. Em resposta a protestos, soluções improvisadas aparecem pouco antes das assembleias, limitando as reações dos acionistas.

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) implementou novas regras, mas a transparência e a qualidade das informações ainda são insuficientes. Muitas empresas não divulgam valores de remuneração e utilizam estruturas complexas que dificultam a supervisão.

Diversas agências recomendam que a remuneração esteja ligada ao desempenho, mas isso ocorre raramente no Brasil, com exceções de gestoras estrangeiras. Os resultados indicam que muitas empresas premiam resultados que nem superam o custo do capital investido.

De acordo com um estudo da FGV, apenas 17% das empresas listadas no Índice de Governança Corporativa (IGC) da B3 criaram valor entre 2019 e 2023, enquanto mantêm práticas generosas de remuneração.

A fragilidade dos comitês de remuneração é destacada, apresentando falta de independência e preparo para avaliar métricas realmente eficazes.

Empresas bem-sucedidas possuem características como:

  • Incentivos mais bem calibrados;
  • Rigor técnico na definição das metas;
  • Comitês de remuneração estruturados e independentes.

Sem transparência, acionistas votam às cegas, arriscando a longevidade das empresas.

Mercados maduros utilizam cláusulas de clawback e períodos de vesting mais longos, buscando resultados sustentáveis. Nos EUA e Reino Unido, a reprovação nas assembleias leva à responsabilização dos comitês de remuneração, uma cultura de accountability que falta no Brasil.

Quando quem define os incentivos não cobra desempenho, cria-se um sistema favorável ao executivo, mesmo sem resultados efetivos.

Fábio Coelho é presidente-executivo da Associação de Investidores no Mercado de Capitais (Amec).

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