'Excesso de política nas igrejas evangélicas tem gerado desgaste'
Censo 2022 revela desaceleração do crescimento evangélico no Brasil, refletindo descontentamento entre jovens e reações da Igreja Católica. Especialistas sugerem que a pluralidade religiosa tem aumentado, evidenciando uma mudança nas dinâmicas de pertencimento.
A perda de força do avanço evangélico no Brasil, conforme o Censo 2022 do IBGE, é atribuída à insatisfação de jovens em famílias evangélicas, reação da Igreja Católica e desencanto com a politicagem nas igrejas.
A cientista política Ana Carolina Evangelista, do Instituto de Estudos da Religião, ressalta que já é possível notar um desgaste entre os evangélicos, levando alguns a se declararem sem religião.
Evangelista explica que a expectativa de crescimento veloz do evangelismo não se concretizou. Embora continuem crescendo, o ritmo é menor: de 5,2% em comparação a 6% antes. A presença recentíssima e intensa no debate público não reflete automaticamente na filiação religiosa.
Ela destaca que o Censo aponta um aumento da diversidade religiosa, incluindo um crescimento das religiões africanas e dos sem religião. O catolicismo, por sua vez, caiu para 56% da população, o menor patamar histórico.
Evangelista assegura que a Igreja Católica está se adaptando para reter fiéis, especialmente jovens. Além disso, o crescimento das religiões de matriz africana é impulsionado pela maior valorização da identidade racial.
A pesquisadora defende que as previsões sobre a maioria evangélica precisam ser repensadas, pois não consideram as dinâmicas sociais e políticas mais amplas. A atual fotografia dos dados reforça essa necessidade de recalibração no debate público.
A crescente diversidade religiosa no Brasil reflete maior liberdade e reconhecimento de direitos, impactando a política e a sociedade. O Censo é fundamental para entender a evolução do perfil religioso no país, embora haja preocupações com a qualidade e a desagregação dos dados.
As dificuldades enfrentadas na divulgação de dados desagregados pelo IBGE são preocupantes e ressaltam a importância de pesquisas complementares para entender esse mosaico religioso brasileiro.