Estrategista que previu fim do excepcionalismo americano vê caminho sem volta se Trump não recuar
A instabilidade da política comercial dos EUA pode levar a uma migração de investidores para mercados internacionais. Especialistas alertam que a rotação de ativos pode intensificar a desconfiança em relação ao crescimento econômico americano.
A rotatividade de investidores globais em ativos americanos deve continuar se a política comercial do presidente Donald Trump persistir, segundo Alain Bokobza, chefe de alocação de ativos da Société Générale.
Bokobza, que foi otimista em relação aos ativos americanos até setembro de 2024, alertou sobre rachaduras no mercado e recomendou reduzir a exposição a ações americanas e ao dólar. Desde então, o S&P 500 caiu 15% e o índice DXY quase 9%.
O estrategista afirmou: “O novo governo em Washington criou um nível muito alto de incerteza generalizada. Essa grande rotação está apenas começando e pode durar anos.”
O dólar e os títulos do Tesouro estão perdendo apelo, com temores de que a política comercial prejudique o crescimento e dispare a inflação. As ações americanas têm um desempenho inferior aos mercados globais este ano.
Bokobza mencionou que as ações de tecnologia estão suscetíveis a tarifas e que o dólar está supervalorizado. A aversão ao risco não está levando à subida do dólar, como era comum nas últimas décadas.
Desde o início do ano, o S&P 500 quase entrou em modo bear market, mas teve uma leve recuperação após uma pausa na aplicação de tarifas, exceto para produtos chineses. No entanto, as restrições de exportação de chips para a China impactaram negativamente as ações de tecnologia.
Bokobza também não vê alívio na política monetária, prevendo que o Federal Reserve não atuará até junho, quando o impacto das tarifas será evidente. A pressão de Trump sobre cortes nas taxas de juros tem gerado preocupações sobre a independência do Fed.
O estrategista prevê uma demanda renovada por ações europeias, afirmando que investidores esqueceram do valor de empresas na Europa, Japão e China. "Não há vencedor no protecionismo e o governo americano está tendo dificuldade em provar sua política.”