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Em relação com idas e vindas, Francisco nunca voltou à Argentina em seu papado

A relação do papa Francisco com a Argentina se deteriorou ao longo dos anos, refletindo uma polarização política crescente. Sua ausência em visitas oficiais à terra natal evidencia um elo complicado com suas raízes e a realidade do país.

Papa Francisco passou 76 dos seus 88 anos na Argentina, mas não retornou ao país em seus quase 12 anos de pontificado. Sua relação com a nação se tornou agridoce após ascender na hierarquia eclesiástica, primeiro como arcebispo, depois cardeal, até se tornar papa em 2013.

A Argentina ainda é majoritariamente católica (63%), segundo pesquisa de 2024. Embora abaixo de países como Venezuela e Paraguai, está acima da média latino-americana.

O primeiro papa latino-americano era fã de tango e futebol, torcendo para o San Lorenzo. A figura de "cura villero" se tornou politizada com o esgarçamento de sua relação com o casal Kirchner. A polarização em torno dele cresceu, com acusações de ser antikirchnerista ou até peronista. Bergoglio, no entanto, sempre reafirmou sua vocação por justiça social, evitando rótulos.

Desde 2003, a relação piorou, com críticas a Néstor Kirchner em missas e envolvimento político que culminaram em acusações de cumplicidade com a ditadura (1976-1983), que nunca foram comprovadas. Em 2010, ele foi chamado a depor sobre o caso de padres torturados, mas processos o isentaram de colaboração com militares.

Após se tornar papa, Francisco manteve relação complicada com Cristina Kirchner, recebendo-a diversas vezes. Contudo, a polarização se intensificou sob o governo de Javier Milei, que o atacou publicamente, embora tenha convidado o papa a visitar a Argentina.

Sergio Rubin, biógrafo do papa, acredita que a polarização escondeu uma oportunidade de reconciliação. Francisco morreu com uma relação mal resolvida com a Argentina, afirmando que não voltaria: "O que me aflige são seus problemas."

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