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Dívida assumida com a França há 200 anos prejudica Haiti até hoje

Dívida bilionária imposta pela França ao Haiti segue impactando o desenvolvimento do país após 200 anos. Especialistas destacam as repercussões econômicas e sociais do acordo, que comprometeu recursos essenciais para a população haitiana.

Haiti: a dívida histórica e seus impactos

O Haiti, país mais pobre das Américas, foi forçado, há 200 anos, a assumir uma dívida bilionária com a França por seu reconhecimento de independência.

A indenização de 150 milhões de francos (cerca de US$ 21 bilhões hoje) visava compensar os ex-colonos franceses pela perda de terras e escravizados, representando mais de dez vezes a arrecadação fiscal haitiana da época.

Rodrigo Bulamah, especialista em Haiti, afirma que recursos que poderiam ter sido investidos em saúde e educação financiaram até a construção da Torre Eiffel.

A revolução haitiana, iniciada em 1791, resultou na abolição da escravidão e na formação da primeira república da América Latina em 1804.

Em 1825, o então líder haitiano Boyer aceitou a dívida sob pressão francesa, iniciando um ciclo de isolamento internacional, bloqueios comerciais e invasões.

A França impôs ainda redução tarifária e empréstimos a juros altos, que tornaram a dívida dupla. Em 1838, o valor foi renegociado, mas em 1898, metade do orçamento haitiano ia para a França.

Com a ocupação militar dos EUA de 1915 a 1934, a dívida permaneceu um fardo pesado. Somente em 1947, o Haiti quitou a indenização.

Emerson Louis, professor haitiano, fala de uma dívida quádrupla: governo, bancos, trabalhadores e desenvolvimento prejudicado.

De acordo com a pesquisadora Bethania Pereira, líderes políticos se distanciaram da maioria haitiana, enquanto Marcos Queiroz aponta que a dívida haitiana influenciou as independências latino-americanas, como no Brasil, que reconheceu sua independência por 2 milhões de libras esterlinas — dez vezes menos.

O caso haitiano gerou políticas de compensação e reparação a ex-senhores de escravizados, estabelecendo precedentes para outros países da região.

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