Desaceleração da China faz Vale diminuir teor de minério de ferro, na contramão de aço mais limpo

A Vale irá lançar um novo produto de minério de ferro com teor inferior ao tradicional, visando atender a demanda das siderúrgicas chinesas, que enfrentam lucros baixos devido à desaceleração da economia da China.

O China representa 62% das vendas da Vale, influenciando suas estratégias de produção.

Em abril, Rogerio Nogueira, vice-presidente da Vale, anunciou a criação de um minério de médio teor, feito a partir do minério de Carajás, combinando material antes descartado com minério de alto teor.

O novo produto terá teor entre 60% e 63%, divergindo dos atuais 66% de Carajás e 62% do produto principal, que é uma mistura com o minério de Minas Gerais.

Segundo Nogueira, as siderúrgicas buscam minérios de grau médio devido a margens de lucro reduzidas e quedas nos preços do carvão.

Esse movimento é significativo, já que o minério de Carajás é considerado o "ovo de ouro" da Vale, importante para a produção de aço sustentável.

A atual preferência pelo minério de menor teor reflete uma dificuldade econômica em priorizar a descarbonização. O portal MySteel observou que a demanda por minério de menor teor provocou uma redução na diferença de preços entre os graus.

Além disso, a Rio Tinto anunciou redução no teor do seu produto principal, acompanhada por outras mineradoras brasileiras que também estão intensificando vendas de produtos com menor teor.

De acordo com Artur Bontempo, analista da Wood Mackenzie, a situação está diretamente ligada à produção excessiva de aço na China, pressionando preços e margens. O minério de alta qualidade é necessário, mas o mercado está mudando.

A Vale, visando flexibilidade, também diversificará seu portfólio. A gerente de estratégias, Debora Doblas, reafirmou que atender às necessidades dos clientes é uma prioridade.

Ela destacou que, apesar da crença na descarbonização gradual, a mineração atendendo à siderurgia atual e as condições do mercado são fundamentais no curto prazo.