Cora Coralina: a doceira que se tornou poeta popular após publicar primeiro livro aos 75
Cora Coralina, a doceira que conquistou o cenário literário nacional, é lembrada 40 anos após sua morte. Sua obra, marcada pela simplicidade e pela voz das camadas marginalizadas, gera controvérsias entre críticos e acadêmicos.
Cora Coralina, pseudônimo de Anna Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, é uma das poetas mais renomadas da literatura brasileira, mesmo sendo uma mulher viúva, doceira e com pouca escolaridade. Sua morte completa 40 anos nesta quinta-feira, 10 de julho.
A autora goiana, que escreveu de forma simples e acessível, se destacou por sua conexão com a oralidade, memória e cotidiano do interior do Brasil. Para o poeta Carlos Willian Leite, sua literatura é "marginal" e reflete uma "vivência distante dos grandes centros culturais".
O sociólogo Clovis Britto classifica sua obra como "de resistência", destacando que Cora poetizou a vida das pessoas marginalizadas. O professor Vicente de Paula da Silva Martins acrescenta que suas obras desafiaram as fronteiras da literatura tradicional.
A autora estreou tardiamente, aos 75 anos, com Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais. Sua invisibilidade no campo literário foi influenciada por sua condição social e como mulher.
A visibilidade de sua obra aumentou quando o poeta Carlos Drummond de Andrade elogiou seu trabalho, tornando Cora uma presença importante na literatura. Seu legado continua a ser valorizado, apesar de não ser aceito por todos os críticos, com alguns a considerando "irrelevante".
Cora nasceu na Cidade de Goiás e publicou em jornais desde a adolescência. Após perder o marido, retornou ao interior de São Paulo, onde fez linguiças e se tornou livreira. Em 1956, voltou para Goiás, onde se tornou doceira e se dedicou à escrita.
Seu trajeto literário culminou na publicação de vários livros, mesmo que sua inclusão no cenário literário tradicional tenha sido difícil. Para muitos, sua obra evidencia o cotidiano e a cultura popular, enquanto outros a consideram uma poesia sem relevância.