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Como pressão dos EUA e erros da ditadura frearam programa nuclear brasileiro

O encontro entre Cyrus Vance e Ernesto Geisel revela a complexidade das relações Brasil-EUA na década de 70, marcada por pressões sobre o programa nuclear brasileiro. Documentos estratégicos deixados por Vance expõem a tentativa americana de minar as aspirações nucleares do Brasil em meio a um contexto geopolítico tenso.

Em novembro de 1977, Cyrus Vance, então secretário de Estado dos EUA, visitou o Brasil com o objetivo de melhorar as relações entre os países e pressionar o governo a abandonar parte do programa nuclear.

O Brasil buscava desenvolver sua tecnologia nuclear por meio de um acordo com a Alemanha Ocidental, conhecido como "acordo do século". Durante um encontro em Brasília no dia 22 de novembro, Vance deixou uma pasta com documentos estratégicos sobre como pressionar o presidente Ernesto Geisel.

Os documentos revelaram que a estratégia americana incluía explorar rivalidades geopolíticas, especialmente entre Brasil e Argentina. Pesquisadores brasileiros, Dawisson Belém Lopes e João Paulo Nicolini Gabriel, analisaram esses eventos e publicaram o artigo "Who's to blame for the Brazilian nuclear program never coming of age?".

Os pesquisadores identificaram fatores que contribuem para o fracasso do programa nuclear brasileiro, como a pressa militar em adquirir tecnologia externa e o isolamento dos burocratas do restante da comunidade científica.

A pressão internacional, principalmente dos EUA, surgiu após a assinatura do Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares (TNP) em 1970, que impediu o avanço do programa nuclear do Brasil. Apesar do plano com a Alemanha, os EUA tentaram minar o projeto, e, pressionada, a Alemanha não cumpriu as promessas de transferência de tecnologia.

Em resposta às consequências das pressões e da falta de apoio local, o Brasil viu seu financiamento ao programa nuclear diminuir a partir da década de 1980. Além disso, a Constituição de 1988 limitou o uso da energia nuclear a fins pacíficos.

Os fatores de fracasso incluem:

  • Isolamento da nucleocracia em relação à comunidade científica.
  • Supressão da pesquisa científica.
  • Pressa em adquirir tecnologia externa em vez de desenvolver localmente.
  • Falta de realismo nas expectativas de transferência de tecnologia.

Ainda assim, a teoria da armadilha de potência média foi mencionada, sugerindo que o Brasil, em vez de prosperar, ficou preso em interesses geopolíticos que limitaram seu avanço. O artigo conclui que alternativas existiam para que o Brasil pudesse ter seguido um caminho diferente no desenvolvimento de sua tecnologia nuclear.

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