Como mulheres com sintomas de psicose e depressão pós-parto foram acusadas de bruxaria séculos atrás
O relato de Prissila Collit destaca como o sofrimento maternal no século 17 foi erroneamente interpretado como bruxaria, refletindo a falta de compreensão sobre saúde mental na época. Especialistas analisam as consequências históricas e sociais dessa perseguição e sua relevância nos dias atuais.
Prissila Collit relata ter sido tentada pelo diabo a matar seus filhos para acabar com sua pobreza, durante o século 17 na Inglaterra. Ela colocou seu bebê perto do fogo, mas foi salvo pelo irmão. Essa história está em documentos analisados por pesquisadores, como C. L'Estrange Ewen, em seu livro sobre caça às bruxas.
O sofrimento materno foi interpretado como bruxaria, com especialistas como Marion Gibson e Louise Jackson afirmando que muitas acusadas de bruxaria sofriam de doenças mentais. Elas frequentemente confessavam serem tentadas ao infanticídio e ao suicídio.
Nos EUA, Natalie Hull e Peter Hoffer observam que mulheres eram condenadas por bruxaria com base em questões morais e sociais, refletindo uma opressão social. O pânico generalizado e o puritanismo influenciaram essas realidades, resultando na morte de até 100 mil pessoas, a maioria mulheres.
Historiadores alegam que a caça às bruxas, ligada à saúde mental, resulta de uma busca de controle social e econômico. Muitos comportamento eram associados à influência demoníaca ou "melancolia". Por exemplo, o médico Richard Napier identificou comportamentos de sofrimento mental entre mulheres no pós-parto que hoje seriam diagnosticados como depressão.
A magia era vista como um dom, mas a demonologia mudou essa perspectiva, levando à ideia de pactos com o diabo no início do século 13, acentuados pela Inquisição. O controle social por meio da caça às bruxas foi considerado uma parte do desenvolvimento da modernidade e do capitalismo.
Apesar do declínio da caça às bruxas, especialistas indicam que acusações continuam em partes da África, Ásia e América Latina, geralmente associadas a crises econômicas. Hoje, questões de saúde mental feminina ainda estão ligadas a estigmas e consequências severas, como o infanticídio.
Embora o reconhecimento da relação entre maternidade e saúde mental tenha avançado, o estigma persiste. A OMS aponta que uma em cada cinco mulheres enfrenta transtornos mentais após o parto. As condições podem incluir depressão, ansiedade e psicose pós-parto.
Estudos mostram que o isolamento e a falta de apoio são fatores críticos para o sofrimento materno. Mulheres enfrentam dificuldades para atender às expectativas sociais, sendo frequentemente responsabilizadas por seus problemas de saúde mental. Para casos graves, tratamentos podem incluir medicamentos e suporte psicológico.
Procurar ajuda é fundamental. No Brasil, o CVV oferece apoio 24h, e outros serviços de saúde mental estão disponíveis para atenção a estes transtornos.