Como eu, você e todos nós estamos nos transformando em uma nuvem de dados. E isto não é nada bom
Redes sociais coletam uma quantidade impressionante de dados dos usuários, moldando seus comportamentos e preferências. O uso de algoritmos e cookies gera um ambiente onde as informações são constantemente monitoradas e comercializadas para maximizar a publicidade.
Oito em cada dez usuários de internet no Brasil utilizam redes sociais frequentemente, segundo dados de 2024 do NIC.Br.
As redes sociais coletam dados em diversas camadas. A camada “zerésima” inclui informações básicas, como nome e idade. A partir daí, são monitorados dados comportamentais, como curtidas e tempo de interação, que ajudam a inferir gostos e desejos.
Esses dados são organizados em perfis vendidos automatizadamente para anunciantes. A manipulação não precisa ser perfeita, já que o objetivo é manter o usuário engajado com anúncios.
A terceira camada são os cookies de terceiros, mais invasivos que os cookies comuns, que permitem monitorar a navegação entre sites. Esses cookies auxiliam empresas a compilar perfis detalhados, muitas vezes vendidos a corretores de dados.
Esses perfis podem conter informações pessoais sensíveis, alimentando Fraudagens e gerando preocupações com privacidade e segurança.
As redes também personalizam o conteúdo, não mostrando necessariamente o que é mais relevante, mas sim o que gera mais engajamento. Isso cria uma experiência imersiva que permanece no ciclo vicioso de coleta de dados.
Algoritmos priorizam conteúdos que geram emoções fortes, como raiva, contribuindo para a desinformação. Como revelou a professora Zeynep Tufekci, eles podem levar a um extremismo gradual, sugerindo conteúdos cada vez mais radicais.
A inteligência artificial tem um papel crucial nesse processo, prevendo o que os usuários gostarão de ver a partir de suas interações. Isso gera um ambiente onde o conteúdo viral não é necessariamente informativo, mas altamente clicável.
A urgência por transparência nas plataformas é vital, assim como regulamentar influenciadores, que muitas vezes atuam sem limites claros. Alternativas como Bluesky e Mastodon oferecem dinâmicas menos agressivas, mas ainda são pouco utilizadas.
Para avançar, a sociedade deve buscar compreender o funcionamento das redes, demandar transparência e refletir sobre como se informar e se comunicar, priorizando interações fora do ambiente digital.
Marcelo Soares é professor de jornalismo de dados e digital na Unicamp.