Como cruz passou de instrumento de tortura a símbolo de fé cristã
Sexta-Feira Santa é marcada pela reverência à cruz, símbolo central da fé cristã. A tradição de adoração reflete uma evolução histórica do significado da crucificação de Jesus entre os seus seguidores.
A Sexta-Feira Santa (18/4) marca a reverência à cruz em cultos ao redor do mundo, com milhões de fiéis participando da adoração. O rito rememora a morte de Jesus pelo Império Romano e integra a liturgia há mais de 1,5 mil anos.
Nos primeiros séculos, a cruz não era venerada pelos cristãos, que a viam como símbolo de vergonha e medo. Segundo a arqueóloga Cayetana Johnson, a crucificação era considerada escandalosa entre os judeus, uma forma brutal de execução reservada a inimigos do Estado.
O símbolo cristão inicial era o peixe, representando a fé em Jesus, cujos ensinamentos eram ligados à pesca, como mencionado nos Evangelhos. A palavra "ichthys" em grego significa peixe e também é um acrônimo de Jesus Cristo, Filho de Deus, Salvador.
O imperador Constantino I mudou a percepção da cruz no século 4, promovendo-a como símbolo do cristianismo após uma visão antes de uma batalha. Ele usou a cruz em escudos e moedas, embora inicialmente não fosse como a conhecemos. Constantino também encomendou a busca da cruz onde Jesus foi crucificado, influenciando sua nova interpretação.
Com a proibição da crucificação em 337 d.C., o processo de ressignificação da cruz começou, lentamente evoluindo até que, no século 6, surgiram imagens mais gráficas de Cristo crucificado. Essas imagens se intensificaram na Idade Média, refletindo a turbulência da época.
Hoje, a cruz permanece como símbolo central da religião cristã, lembrando a crucificação e a ressurreição de Jesus.