Como bacalhau virou prato típico da Sexta-Feira Santa
A escolha do bacalhau na Sexta-Feira Santa provoca reflexões sobre a tradição e a economia. Especialistas discutem como a influência portuguesa moldou os hábitos alimentares dos católicos brasileiros durante a quaresma.
Padre Eugênio Ferreira de Lima questiona a tradição de não comer carne vermelha na quaresma, preferindo o bacalhau, que é mais caro. Ele critica a falta de auxílio aos pobres e reflete sobre o costume durante a Páscoa.
O bacalhau, tradição portuguesa, tornou-se popular no Brasil, especialmente em um contexto de conservação de alimentos. O historiador André Leonardo Chevitarese destaca que a abstinência de carne durante a quaresma é mais relacionada a simbolismos religiosos do que a fatores econômicos.
Jejum é uma prática antiga no cristianismo, iniciada na Idade Média, influenciando a abstinência de carne vermelha, que, segundo São Tomás de Aquino, é vista como um alimento prazeroso, associada a luxúria.
Peixe é permitido, em parte, devido à sua importância cultural e conexão com Jesus, sendo o acrônimo ichthys um símbolo do cristianismo. A prática da abstinência de carne vermelha foi codificada ao longo dos séculos, influenciada por tradições monásticas.
Apesar de a Igreja não prescrever o consumo do bacalhau, a tradição brasileira surgiu da influência portuguesa no século 19, onde a conservação do bacalhau era prática comum durante a quaresma. O bacalhau tornou-se uma mercadoria popular no Brasil, refletindo as práticas religiosas e comerciais.
Teólogo Gerson Leite de Moraes observa que a tradição é uma ressignificação da cultura portuguesa, que persistiu sob influência do catolicismo na história brasileira.