Chá das cinco, tweed e treino para perder sotaque: quem é o juiz que inventou ser nobre britânico
Juiz de São Paulo viveu por 45 anos com identidade falsa de nobre britânico. Denúncia aponta uso de documentos falsos e falsidade ideológica.
Juiz aposentado José Eduardo Franco dos Reis, afirmando ser da nobreza britânica, viveu 45 anos sob a falsa identidade de Edward Albert Lancelot Dodd Canterbury Caterham Wickfield.
De acordo com colegas, ele se comportava como membro da realeza, bebendo chá às 17 horas e vestindo blazers de tweed. Seu nome incomum gerava curiosidade, mas ninguém suspeitava da falsidade.
Um advogado chamou-o de “empafioso”, enquanto um desembargador o descreveu como "habilidoso e charlatão". Edward alegava ser filho de pais britânicos e que usava o metrô por estar acostumado à Inglaterra. Assim como dizia ter tratamento fonoaudiológico para reduzir seu sotaque.
Ele foi denunciado pelo Ministério Público de São Paulo por uso de documento falso e falsidade ideológica. A denúncia, assinada pelo promotor Maurício Salvadori, foi recebida pela 29.ª Vara Criminal, mas ainda não foi julgada.
José Eduardo, originário de Águas da Prata, formou-se na Faculdade de Direito da USP e atuou como juiz por décadas sob a identidade falsa. A fraude foi descoberta em outubro de 2024, ao solicitar a renovação da carteira de identidade, revelando registros com digitais diferentes.
Segundo o MP, em 1980, ele obteve um documento em nome de Edward Wickfield usando certificado falso de reservista e outras documentações fraudulentas. Na época, a falta de comunicação entre as bases de dados tornou a falsificação mais fácil.