Brasil volta ao radar de estrangeiros, mas “trauma” recente com emergentes ainda pesa
Cresce o fluxo de investimentos estrangeiros em ativos brasileiros, impulsionado por avaliações mais positivas sobre o cenário econômico. Analistas apontam para a combinação de cortes de juros e eleições como principais fatores de atração, apesar de uma cautela em relação a riscos fiscais e políticos.
Interesse em ativos brasileiros cresce entre investidores globais, mas cautela persiste quanto à velocidade de valorização, segundo relatórios do Bradesco BBI e do JPMorgan.
Após reuniões com clientes, o Bradesco BBI notou aumento no fluxo de capital para a América Latina, motivado por “medo de ficar de fora” (Fomo) e uma rotação global de portfólios. Porém, o “estresse pós-traumático” (PTSD) de 15 anos de fraco desempenho em mercados emergentes limita apostas.
Os pilares do atual interesse são:
- Duplo ciclo de juros e eleições no Brasil;
- Descontos nas ações e no câmbio;
- Movimento global favorável aos emergentes.
O índice MSCI Brazil subiu 24% em 2023, impulsionado pela reversão de temores fiscais e pela posição do Brasil na guerra comercial EUA-China. O Bradesco acredita que o mercado subestima a combinação de cortes de juros e eleições presidenciais.
A Selic, atualmente em 14,75%, é vista como um obstáculo e oportunidade. O banco prevê estabilidade nas taxas e uma possível queda, com os juros reais brasileiros ainda elevados, mas atraindo investidores menos sensíveis a esses custos.
O fluxo estrangeiro já é notável: os ETFs brasileiros registraram captação por dois meses consecutivos. Em contrapartida, os fundos locais enfrentam saídas líquidas, pressionados por produtos de renda fixa.
Em relação a outros mercados, o Bradesco vê a Argentina com peso acima da média devido a reformas, e o México é neutro, com fatos ligados ao nearshoring. O Chile apresenta possibilidade de reprecificação com novas eleições.
O JPMorgan observa que o mercado brasileiro se tornou mais tolerante a más notícias fiscais. A deterioração de preços observada em 2024 não se repetiu. O banco acredita que o calendário eleitoral está moldando as expectativas de investimento.
A aproximação das eleições presidenciais de 2026 está criando interesse crescente, especialmente com o potencial apoio de Jair Bolsonaro a Tarcísio de Freitas. Pesquisas indicam que Tarcísio está competitivo e pode ser o principal nome da oposição.
Essa disputa eleitoral promete influenciar os preços dos ativos brasileiros nos próximos 12 a 18 meses, podendo resultar em mudanças significativas para ações e câmbio.