Brasil avança na política de cuidado, mas lacuna de dados ainda alimenta desigualdade de gênero
Economistas destacam a necessidade de uma pesquisa independente de uso de tempo para melhorar a visibilidade do trabalho não remunerado no Brasil. A falta de dados precisos over os cuidados realizados por mulheres ainda subestima sua contribuição para o PIB do país.
Brasil avança na Política Nacional de Cuidados, mas enfrenta desafios na ausência de pesquisa independente sobre uso de tempo, segundo economistas.
Pesquisas de uso de tempo, que medem a distribuição diária de atividades, são fundamentais para visibilizar trabalhos não remunerados das mulheres e sua contribuição econômica.
Atualmente, dados são coletados de forma limitada pela Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) do IBGE, aponta Luiza Nassif, da Unicamp. O ideal seria uma pesquisa detalhada em formato de diário.
Um estudo recente demonstra que, ao contabilizar o trabalho de cuidado feminino, o Brasil poderia adicionar pelo menos 8,5% ao PIB. Considerando as contribuições masculinas, o incremento total chegaria a 13%.
Entretanto, os números permanecem subestimados devido à baixa remuneração do trabalho doméstico e à falta de dados detalhados sobre uso de tempo. Mulheres dedicam 21,3 horas semanais à economia do cuidado, enquanto homens gastam 11,1 horas.
A ONU recomenda pesquisas sobre uso de tempo, mas a situação no Brasil ainda é deficitária. Trabalho não remunerado poderia representar até 39% do PIB, segundo a ONU Mulheres.
Na América Latina, cerca de 19 países já implementaram pesquisas sobre uso de tempo. A falta de informações impacta diretamente a formulação de políticas públicas, afirma Isabela Duarte Kelly da FGV Ibre.
Pesquisas paralelas têm sido realizadas para aprofundar o tema, revelando que apenas 56,7% das mulheres acreditam na divisão igualitária das tarefas, em contraste com 74% dos homens.
Hildete Pereira de Melo, da UFF, destaca que expor os dados sobre o trabalho não remunerado é crucial, pois ele representa o "trabalho do amor", essencial para a continuidade da vida.
Em 2024, a Política Nacional de Cuidados foi aprovada, visando políticas públicas para cuidadores e cuidados recebidos. O IBGE também está aprimorando a coleta de dados com uma nova abordagem para 2025.
Ana Carolina Querino enfatiza a necessidade de considerar o cuidado como um bem público, fundamental para o desenvolvimento econômico e social.